segunda-feira, 29 de junho de 2009

A Relação com o Marxismo no processo hermenêutica da Teologia da Libertação

No trabalho hermenêutica sobre a teologia da libertação, é trabalhada a teologia como uma reflexão crítica sobre a prática, mas tendo a Palavra de Deus como aquilo que daria luz sobre tal reflexão, em que segundo o texto, se usaria dois tipos de métodos para se realizar reflexões dentro da teologia da libertação.
Dentro desse esquema, teria um que se chamaria “esquema de Ver-Julgar-Agir”[1], em que se teria o ver, como uma análise da realidade, tendo o julgar, como um aprofundamento da teoria, e por fim, o julgar, como a interpretação teológica, fazendo também, uma mediação na prática pastoral, em que se refletiria sobre vários problemas levantados.
Tendo ainda, dentro da metodologia de teologia da libertação, o que se chamaria de Círculo hermenêutico, em que englobaria a experiência do que se consideraria o “não-teorico”[2], considerado como a questão da injustiça que as grandes massas sofrem na América Latina, tendo a suspeita ideológica como conseqüência da questão de quem vê que a situação de injustiça é muito difícil de ser superada, e neste contexto o teólogo faz o que se chama de “mediação sócio-analítica”[3], buscando nas ciências sociais um suporte para analisar a realidade em que se vive, fazendo uma reflexão sobre os resultados obtidos, e busca na luz da teologia da igreja, iluminar o processo histórico para chegar a uma compreensão, e através da tradição teológica, potencialidade para sustentação da realidade injusta. Tendo positivamente o reencontro com a Bíblia, e negativamente coloca essa Bíblia submetida a uma crítica ideológica, direcionando-a para ideologias dos poderes dominantes.
Dentro da experiência de injustiça da teologia da Libertação, segundo o texto, a teologia da Libertação irá encontrar seu ponto de surgimento na fé que acaba por confrontar a injustiça feita aos pobres, e tem seu encontro com o marxismo, justamente na residência da experiência da injustiça social, em que o marxismo mostra uma sensibilidade humana muito grande, e demonstra não se conformar com a questão da pobreza e da desigualdade social, e o encontro da teologia da libertação e do marxismo se dá “na prática entre duas tradições de pensamento, mas entre grupos de pessoas concretas dentro de situações históricas concretas”[4], tendo a teologia da libertação destacado a experiência de Deus com a massa dos pobres, e a teologia feito um esforço para sistematizar essa experiência, em que Deus viria ao encontro do mundo dos pobres. Em que Deus se encontraria na realidade do mundo, através da experiência com a pessoa humana, e provavelmente, a teologia da libertação se encontraria com o marxismo, na questão do contato real com a pobreza real da América Latina, e a questão da ênfase na pessoa humana e na sacralidade do mundo.
O teólogo e também os cristãos, ao terem contato com a injustiça feita aos pobres, despertam o que a teologia da libertação caracteriza como compromisso com a libertação, tendo como busca do compromisso em fazer alguma coisa para remediar a injustiça.
Além da questão da injustiça, temos a fé que inspira os cristãos, presente na teologia da Libertação, em que uma prática cristã e a fé, aparecem antes de qualquer reflexão teológica, e a espiritualidade acha um campo fundamental dentro da teologia da Libertação, em que essa teologia, nasceria de um encontro com Deus, baseado com uma forte espiritualidade, e em que essa teologia da libertação teria seus primeiros passos baseados na questão da espiritualidade.[5], sendo essa espiritualidade, uma questão de estilo de vida, ao qual o cristão se tornaria parte da filiação de Deus, como seu Pai. E a fé cristã é encontrada como elemento fundante da Teologia da Libertação, seguido do que seria o elemento fundamental para a fundamentação da Teologia da Libertação, que seria o amor.
A questão do amor dentro da Teologia da Libertação tem como base principal à característica da entrega e prática radical de morrer pelos outros, tendo esse amor como marco da fé cristã, em que comunidades se entregariam ao serviço em favor dos pobres, demonstrando um amor ativo, e tendo como motivo e estimulador da ajuda ao que mais necessita o destaque do movimento de amor pelo próximo, sendo que neste caso, esse 0elemento do amor, não está presente como característico do marxismo, pelo menos na questão dotada de qualquer motivação transcendente.
A prática dos teólogos estaria intimamente dividida em fazer a teologia a partir da pastoral da Igreja, a partir da práxis de grupos revolucionários, a partir da práxis da história ou a partir da práxi dos povos latinos americanos, em que a primeira prática estaria na pastoral eclesiástica, a segunda nos movimentos revolucionários, o terceiro na práxis política, e o quarto, na perspectiva histórico-cultural, em que o compromisso estaria ligado com as classes populares, com os pobres e com a libertação desses povos necessitados, o que veio de encontro com o marxismo, em que a teologia da libertação faria sua opção pelos pobres e pela massa sofredora do continente latino-americano, em que esse marxismo se encontraria com os propósitos cristãos, quanto ao que diz respeito à opção pelos pobres.
E essa opção, seria algo que não estaria sendo imposto, mas sim, como a vontade de se dispor a ajudar aquele que seria necessitado, sendo uma questão de humanidade, sendo que não seria algo que teria a influência externa, mas sim, seria uma decisão que se justificaria por si mesma.

[1] MUELLER, Ênio. Teologia da Libertação e Marxismo. Uma reflexão em busca de explicação. São Leopoldo: Sinodal. 1996. P 153

[2] Idem
[3] MUELLER, Ênio. Teologia da Libertação e Marxismo. Uma reflexão em busca da explicação. São Leopoldo: Sinodal. 1996. P 154

[4] MUELLER, Ênio. Teologia da Libertação e Marxismo. Uma reflexão em busca de explicação. São Leopoldo: Sinodal. 1996. P 157

[5] MUELLER, Ênio. Teologia da Libertação e Marxismo. Uma reflexão em busca de explicação. São Leopoldo: Sinodal. 1996. P 161

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