quinta-feira, 23 de abril de 2009

PENTECOSTES PARTE 1

"Quando chegou o dia de pentecostes, eles se achavam reunidos todos juntos. De repente, veio do céu um ruído como o de um violento vendaval que encheu toda a casa onde eles estavam; então lhes apareceu algo como línguas de fogo, que se repartiram, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e se puseram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
Ora, em Jerusalém, residiam judeus piedosos, vindos de todas as nações. Ao rumor que se propagava, a multidão se reuniu e ficou toda confusa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua." (At 2,1-13)


Enquanto a Páscoa era uma festa caseira, à Colheita ou Semanas ou Pentecostes era uma celebração agrícola, originalmente, realizada na roça, no lugar onde se cultivava o trigo e a cevada, entre outros produtos agrícolas. Posteriormente, essa celebração foi levada para os lugares de culto, particularmente, o Templo de Jerusalém. A Festa das Colheitas (Cabanas ou Pentecostes) não era uma cerimônia neutra, isto é, os celebrantes não se reuniam para um simples lazer ou diversão. Toda a cerimônia buscava reafirmar e aprofundar o sentido da fé em Javé, o Deus Criador e Libertador:
.Aprender a fraternidade. Um dos detalhes marcantes dessa "Santa Convocação" é o fortalecimento da fraternidade entre os trabalhadores do campo, incluindo a população israelita, os servos e estrangeiros.
.Aprender a ter compromisso com Deus e com a comunidade. Ao celebrar a festa, toda a comunidade aprendia a ser responsável para com a vontade de Deus e com o próximo - não somente com os irmãos de sangue e fé. O ritual da festa ensinava, pedagogicamente, que Deus é o Criador e Sustentador das leis que regem o mundo. Ele fez uma distribuição comunitária da terra e manda a chuva para hebreus e gentios, bons e maus, homens e mulheres, jovens e crianças. O ritual da festa entendia que o grande problema da humanidade é a falta de amor uns para com os outros.
. Aprender a repartir os dons. Primitivamente, o povo bíblico convivia com as leis divinas de modo feliz, sem lhe causar sofrimento. Por exemplo, a festa das Colheitas ensinou a comunidade de trabalhadores do campo que se deveria entregar o excedente de sua produção agrícola para Javé, a fim de que essa oferta seja compartilhada com os menos favorecidos (Lv 25.6-7, 21-22). A pedagogia dessa lei possui uma profunda sabedoria, pois ela tem como alvo educar o povo dentro dos princípios da solidariedade e igualdade social.
. Aprender a agradecer. Ao agradecer a Deus pelo dom da terra - para morar, plantar e alimentar dos frutos produzidos nela - o povo descobria os mistérios da graça divina. Ser grato pela "terra que mana leite e mel", pela cevada, trigo e outros grãos que sustentam vida representam uma alegria de enormes proporções. Além da terra, os celebrantes eram ensinados a agradecer a Deus pela instrução que disciplina e ordena a vida comunitária.
O nome da festa recebeu originalmente o nome de "Festa da Colheita"; porque se tratava de uma cerimônia que girava em torno de uma sega de grãos, após o período de formação e maturação. Depois, "Festa das Semanas"; porque ele diz respeito às sete semanas de duração da festa quando se processava a colheita de trigo e cevada. Como parte da forte influência exercida pela cultura grega sobre os judeus, a partir do século IV, antes de Cristo, o nome "pentecostes" - cujo significado é "cinqüenta dias depois" - foi usado para substituir o nome da Festa das Colheitas ou Festa das Semanas. O livro Atos dos Apóstolos usa o nome Pentecostes (At 2.1).
Pentecostes é uma festa adotada pelo Cristianismo ao Judaísmo. Em primeiro lugar, a palavra festa (hag, no hebraico) significa fazer um círculo. Isso revela o sentido primitivo de festa, isto é, uma reunião comunitária (Êx 5.1). Nela, o povo celebrante reunia, especialmente, para estudar os textos sagrados que, mais tarde, viriam a ser a Bíblia.Em segundo lugar, o nome Pentecostes vem da língua Grega e significa cinqüenta dias depois, a saber, da festa da Páscoa. A troca de nome para Pentecostes deu-se a partir do período grego (333-63 anos antes de Cristo), quando a Grécia dominou culturalmente o mundo. O mais primitivo motivo desta festa foi gratidão a Deus pelo dom da terra. Posteriormente, o povo bíblico incorporou o motivo de gratidão pela doação da Torá (450 anos antes de Cristo). A Torá é a instrução divina por excelência, contida no Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia). Provavelmente, a festa de Pentecostes, descrita em Atos dos Apóstolos 2, celebrava a doação da Torá.
A festa, tanto no período do Antigo Testamento como no Novo Testamento, era cosmopolita, isto é, ela reunia pessoas de todas as raças e condições sociais (Dt 16.11 e At 2.1-13).
A fraternidade era estimulada, entre os agricultores, na Festa das Colheitas (Levítico e Deuteronômio). Contudo, essa fraternidade é descrita, em sua plenitude, na reunião reportada no livro de Atos dos Apóstolos, através da palavra grega “koinonia”, comunhão (At 2.42-47). Essa comunhão entre os trabalhadores do campo, na prática, forma o mutirão para colher o trigo pronto para a ceifa.
O rei Josias (séc VII A. C), levou todas as festas para o Templo em Jerusalém. Por que Jerusalém? Porque, é a sede do governo, a capital política e espiritual; é uma cidade que possui uma carga fortíssima de tradição (Sl 48); encarna-se todas as contradições e conflitos; é o centro de todas as tensões da vida judaica; sente-se amor dentro da condição de ódio; nasce a esperança em meio ao desespero; o povo acredita que se dará a plenitude da vida.
No Novo Testamento, o sentido de Jerusalém atinge o sentido universal.
A igreja hoje, nós, somos chamados e desafiados pelo Espírito Santo a aprender e ensinar o verdadeiro pentecostes a todos. Pentecostes de boas novas, do amor de um Deus presente e pessoal e de salvação para o homem. Boas novas de libertação, paz consigo mesmo e com o próximo, cura interna e externa, amor, esperança e eternidade.

(Sávio P. Carvalho,Pr)

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