Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco,
para um lugar deserto, à parte.
O povo sabendo, seguiu-o a pé desde as cidades.
Saindo Jesus, viu uma grande multidão, e,
possuído de grande compaixão para com ela,
curou os seus enfermos. (MATEUS 14,13-14)
As curas também são relatadas, pelos ensinos bíblicos e não estabeleceu uma fórmula milagrosa que curasse, senão a fé. Curou cegos, coxos, paralíticos, corcundas e a Lázaro ressuscitou.
Aos seus seguidores, Jesus oferecia normas de vida por vezes mais dura de cumprir que a própria lei judaica. Ele ensinava as pessoas a amarem a Deus e aos seus semelhantes com toda a força de seus corações e de suas mentes. Frisava que cada pessoa deveria tratar as outras como gostaria de ser tratada por elas.
Em uma época e em uma região em que vigorava a chamada Lei do Talião - olho por olho, dente por dente - Jesus pregava o perdão entre os seres humanos. Isso pode ser considerado uma verdadeira revolução, a medida em que subvertia todo o conceito de justiça pessoal e social então predominante.
Na pedagogia de Jesus, os deuses olímpicos, cheios de paixões humanas, e os deuses brutais dos fenícios e dos babilônios, os deuses monstruosos dos egípcios, dos indianos e dos chineses são substituídos pelo Deus-amor e paternal do Evangelho. O próprio Jeová, muitas vezes visto como ciumento e vingativo, perde o seu poder sobre o mundo. Os pobres, os doentes, os sofredores, os escravos deixam de ser os condenados dos deuses e passam à categoria de bem-aventurados.
A virtude não está mais na bravura e no heroísmo sangrento de gregos e romanos, mas na paciência e no perdão. Dar é melhor do que conquistar, humilhar-se é melhor do que se vangloriar, responder ao mal com o bem é a regra da verdadeira pureza espiritual.
Jesus fez uma clara opção pela prática em sua pedagogia, estabelecendo uma relação entre o discurso e a fala. Este dado tem enorme relevância para os cristãos que costumam eleger a fala como principal instrumento de ensino.
Tomamos o Sermão da Montanha, onde Jesus inicia o ensino centrado no discurso (cf. Mt. 5 6 e 7,1-23 ). O desfecho do sermão é onde Jesus privilegia a prática (cf. Mt. 7,24-27). Ele não apenas recomenda a prática de seus ensinos como também põe em prática, à vista de todos, a sua graça e sua misericórdia, sendo isto notado por meio das curas que realizou. Com a prática das curas Jesus devolve a dignidade aos pobres, aos marginalizados (mulher adúltera, leprosos) e outras categorias oprimidas pelo sistema social daquela época.
O Reino não chega apenas através da palavra falada, ou por adesão exclusivamente intelectual, emocional, espiritual e moral. O Reino de Deus surge através da prática da misericórdia de Jesus. Por isso, a multidão à qual Ele devolveu a dignidade e a esperança reconhece nele o Messias.
Na verdade, todo o discurso de Jesus é, antes de tudo a explicitação de sua prática. Ele é coerente porque sua prática é o ponto de partida de seu discurso. Esta é uma das razões pelas quais Ele foi rejeitado. A liderança dominadora não conhecia a pedagogia da misericórdia e do diálogo, aquela que, diante dos abandonados e sofridos, começa com atos libertadores.
A prática pedagógica de Jesus exige que a sociedade humana seja colocada ao avesso. Ela só tem sentido na lógica do Reino. Não basta que uma pedagogia se concentre na prática para que venha a merecer o qualificativo de cristã. Para ser cristã é fundamental que esta pedagogia esteja comprometida com os valores do Reino.
Pr. Sávio P. Carvalho
sábado, 5 de setembro de 2009
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